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22 de janeiro de 2013

Depois de ontem


                                                                                     - Jessy Gregório

Desde que você se foi, minha vida nunca mais foi a mesma, eu tenho chorado constantemente e parece que nada mais importa, talvez importe , mas eu não ligo. Tudo se tornou tão difícil depois que você partiu, não que você tenha partido, esse é o problema, você continuou vivo, tanto em meus pensamentos, como no meu cotidiano. Eu desejei com todas as forças que você fosse embora, embora para um lugar  qualquer, onde eu nunca mais pudesse ouvir a sua voz, nem sentir o seu cheiro, mas você não foi, você ficou parado, olhando pra mim, me torturando e eu me senti a pior pessoa do mundo. Aliás eu ainda me sinto assim, por que você não parou de me olhar, me olha com ar de indiferença, talvez desejando minha morte. Mas acredite, eu morreria se isso fizesse crescer um belo sorriso em seu rosto, esse sorriso que me fez morrer.
Com o tempo, percebi que te amava mais do que o esperado, mas do que o imaginável,  mais do que o suportável por alguém. Me alimentei de lembranças que deveriam ter desaparecido, mas eu as fiz reviver a cada instante, na esperança de que você iria voltar. Nunca pensei que fosse tão triste acompanhar a minha derrota, ver você me apagar e colocar outra garotinha em meu lugar. O  choque foi horrível,  perdi o consciente, perdi o rumo, perdi o amor a minha vida. Cada vez que me deparava com você, uma parte de mim desejava a morte, e outra falecia, com o tempo me tornei uma carcaça humana, vegetando entre as pessoas, presa em um mundo inalcançável por qualquer um. Me tornei pó, cinza, a matéria orgânica que ninguém mais quer. Um ser de alma e coração feridos, sangrando sem parar. Nem sei se um dia a ferida vai sarar, nem sei se um dia, deixarei de te amar.


21 de janeiro de 2013

Retornar III


Capitulo I / Capitulo II / Capitulo III / Capitulo IV
                                         
                                                                               - Jessy Gregório

Em outros carnavais eu diria que sim, e ficaria extremamente honrada em ser acompanhada por um belo rapaz. Mas, definitivamente eu não era mais uma garotinha frágil que precisasse de companhia.

- Não, acho melhor eu ir sozinha mesmo, moro aqui perto e gosto de andar e ouvir musica, se não se importa... - Pude ver a decepção em seus olhos, mas eu não me acostumei com a ideia ainda.

- Ah..é... okay! Se você prefere assim. Bom, qualquer coisa que precise, esse é o meu telefone. Me ligue, tá bem? -  Ele me passou um pedaço de guardanapo com o numero, e com a sigla J.S. ( Julian Strang).

- Ah..obrigada, qualquer coisa eu ligo. Tchau! - Sai, sem dar nenhum comprimento, acho que ele ficou esperando um abraço.

Fui pra casa caminhando lentamente, ainda consegui ver ele entrar em seu carro sport preto e sair fritando o pneu. Não consegui ouvir música, nem dei boa noite ao porteiro como de costume. Cheguei e nem olhei pra cama, fui direto tomar banho e esquecer de tudo. Mil pensamentos me assombraram a noite toda, as possibilidades, o passado, tudo caiu sobre minha cabeça rápido demais. Quando olhei no relógio já era 5 da manhã e eu tive que ir trabalhar.
Peguei a roupa de sempre, bem diferente da jaqueta de couro e maquiagem pesada. Não pude esconder as olheiras deixadas pela noite, nem tão pouco o cansaço mental. Me arrumei e fui trabalhar, a empresa nunca foi meu lugar predileto, mas pelo menos lá podia ocupar minha mente revisando processos e notas.
Peguei meu táxi, depois de tomar um café bem preto e sem açúcar. Dei bom dia ao taxista e uma boa gorjeta como sempre, cheguei a empresa, subi pelo elevador e não encontrei ninguém circulando por lá, nem a secretário do Dr. Mat. Me dirigi a minha mesa, bem alinhada, papéis em ordem, cadeira encostada e um bilhete sobre a mesa, mas isso não foi comum:

 Sra. Fork,
 Assim que chegar venha a minha sala 
                                 Ass. : Dr. Mat
Fui sem entender muito bem o que acontecia, de fora pude ouvir muitas vozes, acho que havia encontrado o pessoal da empresa. Ao abrir a porta, Dr. Mat veio em minha direção, tampando a minha visão, a sala estava muito cheia:

- Jane! Ainda bem que você chegou, quero te apresentar o novo Gerente de contabilidade da Empresa, importado direto de Londres, olhe que maravilha! Espero que se entendam muito bem - Ele me parou em frente a sua mesa e saiu da minha frente, eu mal pude ver no que meus olhos estavam vendo:

- Julian! - Como assim? Não pude conter minha cara de espanto, ele sorriu sarcasticamente e se dirigiu a mim.

- Jane, quanto tempo! Parece que te vi ontem - e soltou uma enorme gargalhada - Espero que goste de trabalhar comigo.

Meu Deus! Era isso mesmo?

                                                                                Continua



                               


8 de janeiro de 2013

Retornar II

Capitulo I / Capitulo II / Capitulo III / Capitulo IV

                                                                                       - Jessy Gregório

Talvez esse " E agora?" não faça sentido algum, eu teria que me acostumar com a ideia de " retorno".  Passei a noite toda tentando entender o que aconteceu, todo mundo fez muitas perguntas a ele, menos eu é claro, me senti envergonhada pelo seu olhar, ele sempre soube que esse tipo de coisa me deixa inibida e por mais que eu tivesse assumido um caráter agressivo as coisas não mudaram totalmente. Ele veio pra ficar, está morando em um apartamento nesse mesmo bairro, bem próximo daqui pelo visto, eu também moro aqui perto. Será que isso é bom? Tudo é tão confuso, nem sei mais o que pensar.
Aos poucos os amigos foram indo embora e de repente me vi sozinha, aquela mesa redonda, antes cheia de gente rindo e falando alto, ficou grande e vazia, em uma ponta estava eu com uma água sem gás na mão, olhando para o bar e pensando: "Como aquelas garotas são vulgares", as garotas encostadas no balcão, totalmente bêbadas e falando besteiras pro BarMan. Por um instante ouvi uma voz completar o meu raciocínio:

- Ainda bem que você não bebe nada alcoólico! É bem diferente delas - Era o Julian, àquela hora da noite, pensei que ele já teria ido embora ou que eu tive uma bela visão, mas não, lá estava ele com aquele olhar sedutor, encostado na cadeira com uma mão ajeitando aqueles belos cabelos castanhos escuros e um tanto desaliados, aquela expressão serena e aqueles olhos cor de mel que me faziam parar de respirar a cada olhada.- Você sempre foi melhor que elas.

- Eu melhor que alguém? Elas só estão bêbadas, são boas moças e já é tarde, ninguém pensa muito bem a essa hora.

- Ah! Para com isso Senhorita Jane, elas são assim naturalmente, pessoas boas e educadas ou não bebem ou não exageram.

- Pode ser - Minha sobrancelha se levantou, isso é um sinal de que eu não quero discutir sobre garotas bêbadas, ele entendeu.

- Você não mudou nada - Eu pensei: " como não? Olha pra mim, tô de jaqueta preta e cabelos pretos e essa cara amarrada. Como não mudei?" - Continua tão linda como antes e com as mesmas manias de antes.

- Eu não sou mais uma garotinha - Desviei o olhar, não queria encara-lo.

- Não falo aparência, falo de caráter. Quem tem, tem. Quem não tem, não tem. E você tem.

- Tá bom, se você diz.

- Eu que mando. Como sempre! - Olhar esnobe e brincadeiras velhas, parece que nada mudou realmente.

- Bobo. Como sempre! - Ele ia começar a relembrar o passado, e isso abriria uma ferida grande demais, não estava preparada. Chega de surpresas por hoje. - Sua companhia é sempre boa, mas a responsabilidade me chama, já são quase uma da manhã, tenho que trabalhar às 6:00.

- Mas está sedo ainda. Não ficou feliz em me ver?- Acho que ele quer dizer: " você não vai dormir comigo?"

- Fiquei sim, é sempre bom rever velhos amigos. Mas eu realmente tenho que ir, tá okay?

- Posso te acompanhar pelo menos?

Por que você faz isso comigo? Ah! O que eu faço?

                                                                                                      Continua...



Melancólico


                                                                              - Jessy Gregório

Levanta, senta-se, faz a volta em quadrado, anda de um lado para o outro sem saber aonde ir, na verdade mesmo que ande léguas e léguas, não chegará a lugar algum. Esbarra nas paredes, acomoda as costas nelas e desliza até o chão, senta-se, cobre o rosto com as mãos e sente uma vontade louca de chorar. Olha para os lados, deita no chão e desaba. Deseja profundamente que o chão te engula com voracidade. Mas isso não acontece, não é o exterior que dói, não é uma lesão que te faz chorar. É algo mais profundo, bem mais interno, mais pessoal.
Levanta de novo, olha-se no espelho, se olha nos olhos e chora de novo. Passeia pela casa, senta na cama, deita-se, vira pra lá, pra cá, olha pro teto, senta de novo. Liga a TV, muda de canal, uma, duas, três...nada. Levanta, vai pra fora, respira fundo, caminha, olha pro céu, outra lágrima derrama, é tanto silêncio que se ouve a lágrima se acabar no chão. É tanto silêncio que se ouve as batidas do coração, assim como os passos, assim como os soluços.
Um milhão de coisas passam pela cabeça, mas se fosse  algo útil eu não estaria alucinada. Parece que quanto mais se tem, mas vazio se está, como um buraco incessante que nunca tem fundo. Os erros serão lembrados eternamente, já os acertos, parecem deveres.
Sabe, eu não gosto de limpar o fundo do poço, toda vez que volto lá, ele está sujo e imundo, cheio de traças e perigos. Aquela luz melancólica que vez lá de cima, me dá sono e preguiça, me faz querer ficar lá. Por isso não gosto de limpa-lo, por mim ele ficaria fechado, e por que não inundado. Poderia jurar que as lágrimas que choro seriam suficientes para enche-lo. Me sinto como Alice, só que sem perspectivas de voltar. Por que a vida dos outros me parece melhor? Parece melhor ou é melhor? Acho que preciso respirar outros ares, essa vida anda me parecendo um tanto : MELANCÓLICA.


2 de janeiro de 2013

Retornar


Capitulo I / Capitulo II / Capitulo III / Capitulo IV
                                                                                             - Jessy Gregório

Era uma noite quente de dezembro, eu estava sentada no balcão do Center Rock Bar, tomava um coquetel sem álcool, nunca gostei de beber, aliás bebida me dá náuseas e faz meu estômago me matar. Eu esperava alguns amigos, naquelas típicas reuniões de fim de ano, onde os amigos (os que restaram) se juntam para contar as novidades e relembrar bons tempos. Eu realmente estava precisando daquilo, o trabalho andava me consumindo, nunca pensei que fosse tão difícil revisar papéis e ter uma vida social, não era essa vida que eu pretendia ter aos 28 anos. Não mesmo!
Eu não estava bêbada, nem tinha como, mas parecia estar anestesiada, eles estavam atrasados e isso me incomodava, sou muito pontual e odeio atrasos, 20h00 são 20h00. De repente vi uma movimentação estranha, as garotas vinham sorridentes na frente em minha direção, enquanto os rapazes iam direto pra mesa.

- Jane, você vai ter uma surpresa, não acredita quem veio este ano a nossa reunião - eu estava aterrorizada - por favor mantenha-se calma, acho que você vai gostar.

 Elas nunca aprenderam que eu nunca me dei bem com surpresas, minhas reações podem ser as piores possíveis.

- Claro Mel, cadê a surpresa? Se for coisa idiota vou te fazer comer camarão! - Mel era alérgica a frutos do mar, eu adorava a cara dela de medo quando eu falava isso.

- Venha e veremos se não vai gostar.

Poxa, ela parecia ter bastante certeza de que eu ia gostar.
Ela saiu me puxando, fomos seguidas pelas garotas até a mesa dos rapazes, foi quando uma delas falou baixinho em meu ouvido : " Olhe do lado do Mat, quem é ele?". Como quem não queria nada eu olhei, ultimamente eu adquiri um jeito esnobe para tudo. Ah! Por que eu olhei?

- Julian? - Como poderia ser ele, não era possível, não poderia ser. E como estava diferente, fazia tanto tempo - Oi! Tudo bem? Poxa, quanto tempo... - eu queria sair correndo, mas tive que ficar ali.

- Oi Jane! Comigo está tudo ótimo e com você? Você está linda! - Ele sempre me dizia isso, " você está linda!", desde o ginásio, a uns 10 anos atrás, acho que ele não sabia outra frase ou talvez dizia a verdade.

- Tudo ótimo! - Queria dizer, "melhor agora!", mas me contive.

Tudo aquilo me pareceu bem surreal, fazia 10 anos que não via aquele rosto, e como estava diferente. Eu amava esse cara e queria ter passado a vida com ele, mas ele foi embora, viajou para outro país e me pediu para esquece-lo. Eu pensei que tinha conseguido, mas eu só pensei. E agora?



continua...



1 de janeiro de 2013

Só uma transição


                                                                                         - Jessy Gregório

Sabe aquela sensação de mudança, a renovação interna, crença no amanhã, pedidos aos céus, lágrimas de emoção, telefonemas a meia noite, estalos no céu...O que foi tudo isso? O que o ano que passou nos deixa? O que virá pela frente? Tudo isso parece perguntas subsequentes,  e são, suas respostas são diferentes a cada ser que as faz para si e sempre existirão a cada novo ano.
Eu não sei bem o que aconteceu, era como se me sentisse evasivamente só. Toda aquela comida, as bebidas, sorrisos, histórias... eu não queria nada daquilo no próximo ano. Me retirei daquela bagunça faltavam cinco minutos para meia noite, desci a rua sem ver ninguém, por alguns instantes me desliguei do mundo, ouvia lá no fundo pessoas me chamando, mas eu simplesmente as ignorei, atravessei a rua e me sentei no gramado da praça, tinha muita gente, muitas pessoas ficaram perto de mim, com garrafas de champanhe, gritando e muitas até me sufocando. Eu dei as costas para tudo aquilo, apenas mirei o céu, numa suplica incessante de melhoras, não que o ano que se foi tivesse sido péssimo, mas pelo medo de que o que viesse pudesse ser pior.
Quando enfim veio a meia noite, vi milhões de abraços, de sorrisos, de desejos de felicidade. Eu esperei partilhar aquele momento como todos, mas ao contrário de tudo que eu podia fazer, me vi imóvel, olhando pro céu, aqueles fogos me traziam desejos de renovação, coisas de devia mudar, atitudes que deveria ter. Pude ver todos irem embora e a praça esvaziar, mas permaneci ali, sentada no gramado úmido até a ultima explosão de fogos me ajudar a lembrar de algo. Eu nunca havia me sentido assim, era como se tudo fosse esperado, cada atitude e o dia de amanhã fosse o mesmo, como se nada fosse mudar, como se a vida estivesse quase completa. Então, antes de me levantar, fiz uma prece rápida e agradeci por aquele ano, já havia pedido demais, me senti no dever de agradecer. Me levantei e caminhei lentamente até a minha casa, não me importei com os olhares que vinham em minha direção, eles jamais entenderiam o que as batidas do meu coração poderiam querer dizer. Antes de ir, pude ver vários casais se beijando, não sei por que, mas aquilo me doeu demais e senti uma lágrima descer no canto dos olhos.
Parei no meio da rua, observei tudo, as pessoas, as casas e as luzes de natal que ainda permaneciam. Entrei em casa, procurei minha mãe e lhe dei um abraço, não disse nada, não tinha nada pra dizer. Comi uma colher de lentilha, peguei minha folha de louro e coloquei na carteira, assim como a lista de pedidos que minha mãe me pediu para fazer. Apaguei as luzes, desliguei a TV, ignorei a presença de pessoas em casa e me desejei boa noite.
Sabe, eu só espero que o ano que se inicia seja bom o suficiente para todos, que pelo menos os 25 itens da minha lista de desejos se realize e nada de bom que eu tenha se altere. Sei que isso só depende de mim, sei que Deus não faz nada sozinho, ele só dá um empurrãozinho, nos indica o caminho e nós caminhamos. Que esse ano seja iluminado, que o caminho seja mais próspero e que o que foi plantado  de bom seja colhido.
Obrigado 2012. Bem-vindo 2013!