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20 de fevereiro de 2013

A ultima crônica



                                                                                                 Jessy Gregório

Na calçada em frente a sua casa Samhanta esperava os carros lhe darem passagem, na rua as poças não haviam secado, refletiam a luz do sol e o céu azul, seu vestido rosa bebê parecia reluzir sob a claridade daquela manhã. Tudo estava perfeito, segurava com segurança o envelope com sua ultima crônica, ela sentia que seu livro ficaria pronto bem rápido, logo todos estariam lendo um exemplar por toda a cidade.
Na esquina um bando de skatistas faziam a curva em alta velocidade, sem se importar muito com as pessoas, e por que se importariam com Samhanta? Um jovem infeliz, passou bem rente a calçada bem no instante que ela colocara os pés na rua. O choque não pegou Samhanta, mas atingiu sua mão e uma forte onda de água proveniente do choque entre o skate e a poça, fez seu brilho se apagar e as folhas de sua ultima história voarem pela rua e se desmancharem na água do chão.

- Oh Meu Deus! Minha história, meu vestido, meu livro!!! Aii, Meu Deus! – ela ainda tentava resgatar as folhas no chão, olhando indignada para tudo aquilo – O que eu vou fazer? Está tudo acabado! -  em meio a tudo aquilo, o que lhe restava era chorar.

- Olha me desculpa, eu não queria ter feito isso com o seu trabalho, por favor me perdoe!

Ao fundo seus amigos o chamavam, caçoavam dele pelo gesto de solidariedade. Apesar do jeito super  sem classe e até meio estúpido, ele sentiu uma incrível pena pela jovem que atropelou, e ignorou todo o tipo de comentário que pode surgir. Se ajoelhou e começou a ajuda-la. Recolheu todas as folhas que pode. Samhanta se sentara na beira da calçada e com as pequenas mãos, finas e delicadas, de dedos longos, tampou seu rosto, num gesto de quem está incrédulo com o  que acabará de ocorrer.

- Oi moça? Meu nome é Daniel, mas pode me chamar de Dan. Mas se quiser me chamar de palavrões e outros nomes por ai, pode chamar, eu sei que mereço. – Na sua expressão se via um profundo arrependimento pelo ocorrido, e uma imensa vontade de ajudar. Acho que mais que isso, algo que nem ela, nem ele, saberiam explicar no momento – Aqui estão os papéis que consegui salvar...é...por favor diga alguma coisa!! Mas só me perdoe...

- Não tem problema, acho que posso pedir um prazo maior para reescrever a história... e ... Ah! Enfim... fatalidades não é?! Prazer Meu nome é Samhanta - E estendeu a mão delicada para Dan. Eles sorriram timidamente, e ele pegou sua mão. A mão fina de uma escritora em contraste a mão rude de um skatista não era tão poética, mas quem se importava? Alguns acidentes não acontecem por acaso. 

- Eu tenho que ir, você precisa de alguma coisa? Machucou algo? 

- Não Dan, só me molhei um pouco. Moro bem aqui nesse prédio antigo. Bem a minha cara. - Ela deu um largo sorriso, e se levantou. - Vou subir e me trocar...

- É... o prédio é lindo! - Seus  olhos a seguiam sem parar, dentro dele, alguma coisa fazia o seu coração bater tão forte, que as palavras lhe faltavam... - Eu tenho que ir também, como pode ver, meus amigos me abandonaram.

- Ah... tudo bem, nós nos encontraremos por ai. Foi um prazer conhece-lo.

- O prazer foi todo meu. Desculpa ai o mal jeito! 

Ela sorriu e acenou. Enquanto ele subiu em seu skate e sumiu na esquina. Samhanta ficou olhando aquele rapaz sumir, e sua mente poética lhe fez imaginar que aquilo tudo não seria um breve acidente. E na mente dele, não tão distante dali, algo o fazia pensar o mesmo. Ora! que coincidência, ambos estão pensando um no outro, e pensariam muito mais...


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